O ônibus

Ontem, quando eu saí do trabalho, um ônibus articulado me deu medo, tive a impressão de que a parte traseira não articularia e atingiria os pedestres que aguardavam o farol, inclusive eu, que recuei instintivamente para quase dentro do bar da esquina. O ônibus articulou e não acertou ninguém eu e todos os outros que estavam ao meu lado, seguimos nosso caminho.
Hoje de manhã, a história foi diferente, um ônibus atropelou quatro pessoas, uma morreu na hora.
Hoje eu cheguei mais tarde ao trabalho, desliguei o despertador e fiquei sonhando com Recife, não sei porque...
O local do acidente é próximo ao meu trabalho, por onde eu passo quase todos os dias saindo do metrô, o horário do acidente coincide com o horário que eu cheguei ao trabalho ontem.
Toda vez que a morte passa perto de nós, é inevitável pensarmos no assunto.

Parte da minha família é, eu digo, bastante mórbida, vários de meus parentes gostam deveras de falar de mortes e tragédias. Na cidade onde nasci, nas esquinas principais, eram afixadas as notas de falecimentos, sempre que eu estava com minha mãe ou meu tio, parávamos para ver o nome do defunto, minha sempre dizia: “Pode ser algum conhecido”. Meu pai trabalhou em um pequeno município, em que os falecimentos eram noticiados sonoramente por um caminhão que percorria a cidade. Minha avó tinha uma agenda escrito Falecimentos em diagonal, onde havia a data dos óbitos da família toda e amigos.

Quando eu saí para almoçar, prestei atenção na conversa das pessoas, já surgiram várias versões para o acidente. Uma moto fechou o ônibus. O motorista teve um mal súbito...
O ônibus já foi retirado do local, as vítimas também, o trânsito continua complicado, a Eletropaulo está recuperando o poste de luz derrubado. Todos comentam o acidente.

Quando eu era criança, devia ter uns 9 ou 10 anos, a pedido da minha mestra, fui buscar um apagador na sala dos professores e passei pelo pátio do colégio que tinha várias árvores. Pouco depois que eu retornei para a sala de aula, uma das árvores caiu, por estar cheia de cupins. Não houve vítimas, mas eu tive a impressão de que a morte passara perto de mim.

Hoje pensei nas vítimas do atropelamento, no motorista do ônibus, mas principalmente tive de novo aquela mesma sensação.

Comentários

Unknown disse…
bonita versão da história.
eu acho que a morte passa por nós várias vezes ao dia, sabia? É tudo uma questão de timing. Não é ser mórbido, é normal quando somos de uma cidade bombardeada por estatísticas: de bala perdida, de atropelamento (eu passo por esse medo 5 x ao dia), assalto, seqüestro relâmpago, acidente no trânsito, árvora na cabeça, etc. Não é fácil. =)
Cax disse…
Timing mesmo
É verdade Bean, não é fácil, mas prefiro esquecer as estatísticas para continuar caminhando e tentando ser feliz e otimista.

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