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Sarau Embaixo da Terra #3

Sexta-feira 13 nublada Ótimo dia para a melancolia Ou para a poesia Escolho a poesia Poetas, bruxas, bruxos e simpatizantes Para vencer esse tempo difícil O remédio é poetizar Esqueçamos as agruras Ou coloquemos as agruras no papel, na arte, na poesia, nos ouvidos dos amigos No microfone do porão Gratidão Porão! Exorcizemos os males com palavras e cervejas boas Temos Poema ao Vivo Obrigada Brittox! Temos bateria Obrigada Henriques Doem palavras Pratiquem a empatia Bora fazer poesia Bem vindos à 3ª edição do Sarau Embaixo da Terra Microfones e veias abertas.

Meu primo morreu

Gustavo morreu, e eu sigo a vida, o trabalho.. É novembro, dia da consciência negra. Gustavo Adolfo, Adolfo era meu avô, que eu não conheci; Pego o metro gelado, seguro o apoio gelado Como meu primo deve estar. Cabelos loiros Boca desenhada Gelada Meu primo morreu Triste atormentado Meu primo morreu Meu tio morreu, minha tia morreu, minha avó morreu Meu avô morreu antes de eu nascer. Meu filho primogênito nasceu quando eu tinha 39 anos Os irmãos do meu filho não nasceram. Eu não morri ainda. Meu primo nasceu 9 anos depois de mim Meu primo morreu não sei quanto tempo antes de mim Meu primo tinha olhos castanhos, sorriso bonito Meu primo tinha seus tormentos, seus lamentos Eu só conheci suas cicatrizes, alas enraizaram e o mataram. Meu primo foi bebê, criança apegada a prima. Meu primo agora é morto, corpo. Meu primo morreu e eu fui almoçar num restaurante vegetariano. Meu primo não era vegetariano, eu não sou vegetariana. Será que te

NossaJam

O que é NossaJam? É um projeto que ocorre em uma sala no Centro de Referência da dança da Cidade de São Paulo, todas as quartas-feiras, a partir das 18 horas, consiste em encontros de improvisação de dança sem pauta prévia... O assunto veio à baila num happy hour de mesa grande no Amarelinho, nosso boteco frequente em Santa Cecília, os idealizadores do projeto estavam sentados ao meu lado, falávamos de nossas não-realizações profissionais e dos expedientes para sobrevivermos em tempos tão sombrios, Jean e Luana, meus vizinhos, são franco-brasileiros, fotógrafos, ele dançarino, ela tradutora, embora Jean pague as contas trabalhando como programador numa empresa coxa, no 1º sarau que organizei, a performance de Jean, contando sobre uma mariposa, foi sensacional... - A poesia e os saraus tem sido meu ópio, comentei – e ele me contou que a ocasião da Mariposa foi sua primeira experiência em sarau, que as palavras não são o forte dele e me convidou para experimentar improvisar na

Lamento

Eu lamento pelo mundo doente Pela canalhice vigente Pela empatia ausente Lamento pelo sangue perdido Pelo filho não nascido Pelo amor esvaído Lamento em meu choro contido E nas lágrimas escancaradas com o peito dilacerado pelo óleo derramado a história cortada a paixão desencantada Lamento o sorriso esquecido As lutas perdidas A felicidade sumida Lamento pela desigualdade constante Pela perda do instante Pelo final inevitável Saudoso do início memorável Lamento a morte A falta de sorte E depois de tanto lamento Escrevo O poema me foge A vida me acode A rima pobre me fode O grito eclode Puta que pariu tá foda! Mas tá na hora de acordar Respirar, levantar Bora poetizar Bora fazer arte Bora ser feliz (Viva o Sarau Embaixo da Terra!)

Descompasso

Passo a passo Passo Compasso descompassado Passam Passem Passarão Passem apressados Descompassados Passados apressados Descompensados opressores Depressíveis Insensíveis Assassinos Inacessíveis Sociopatas Sujos sugadores Sócios insólitos Insumos substituíveis Soldados soldados Sofríveis Sofridos Impossíveis Vencíveis Sólidos salgados Solúveis Soldados.

Velho Chico

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Aqui venta Venta    venta Vento intenso, forte  Move até o o grande rio Francisco  Chicão se move com o vento Chico intenso Imenso Mas se move com o vento O vento move meu cabelo Esvoaça Enverga o verde As flores dançam Meu pensamento Flutua pelas montanhas  Sertão verde do Velho Chico O hotel toca um ruído  Ruidoso  O filho traz flor O ruído traz rima pobre  De amor, melhor A flor  O vento superior Só passa, indiferente  À música ruim Que só piora Luzes elétricas Hidrelétrica  Ilumina e tolhe  O velho Chico Que se aborrece Aborrecido  Preocupa quem sabe  De Francisco O resto  O resto só o  Vento balança  A luzinha prepotente  Acende Enquanto Chico segue  Com o vento

Não plantei (compilação)

Eu não plantei o que estou colhendo meu vizinho jogou uma semente no meu quintal De repente brotou um tremendo arsenal Flores do mal? Pedras de sal? arame de berimbau? Ou enfeites de natal? Era o sonho dos Neandertal Ou Lou pesadelo de xenical Gente de capital do mal Sem sal Now Poema é rima manual Apenas versos pra sarau Adendo Eu não plantei o que estou colhendo (Bezerra da Silva, Daniel Minchoni, Marco Phé, Shima, Cax Nofre)

Dia

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Dia claro        Peito apertado                    Olhos nublados
A Procura (Cora Coralina) Andei pelos caminhos da vida Caminhei pelas ruas do Destino - procurando meu signo Bati na porta da Fortuna mandou dizer que não estava Bati na porta da fama falou que não podia atender Procurei a casa da Felicidade a vizinha da frente me informou que ela tinha se mudado sem deixar novo endereço Procurei a morada da Fortaleza Ela me fez entrar: deu-me veste nova, perfumou-me os cabelos fez-me beber de seu vinho Acertei o meu caminho.

Tempo

Quanto dura o tempo? Almejado lépido:                           Imenso Desejado lento:                        Efêmero Tempo ansiosamente vagaroso    Tempo alegremente disparado

Ainda

Ainda que esfrie, chova e que pulhas estejam no poder empenhados na destruição Ainda que o governador seja de cera e o Presidente de milícia racista Ainda que o Tribunal seja machista, retrógrado, homofóbico, quase fascista Ainda que Damaris continue goiabando e os ministros laranjando Ainda que tudo pareça uma piada de mal gosto ou um pesadelo sem educação Ainda que o inverno demore e os olhos transbordem Ainda que a tristeza venha e as veias desanimem Ainda que o verde queime e o vermelho seja condenado Ainda que existam tantos “ainda ques” Ainda assim, não podemos perder a ternura O rio há de retomar seu curso, a história não será soterrada para sempre Os olhos voltarão a se abrir Quando o tempo dos pulhas acabar, eles provarão do fel que agora nos oferecem e não saberão cantar, nem pintar, nem poetizar, nem abraçar... Negam a arte, serão sempre cegos, sem tato, nem olfato, nem sorriso, nem sentido Nem poderão chorar no ombro amigo Porque eles não sab

Embaraçados

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Embaraço meus cabelos No teu corpo Enquanto beijo E mordo

Vermelho

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Local :   Escada rolante da estação de metrô Praça da Sé, São Paulo, SP, Brasil Quando: quarta-feira, 14 de agosto de 2019, às 9:55 horas Personagens : eu e um homem desconhecido Homem: Nossa que legal, toda vestida de vermelho Eu: É (sorrisinho cortês) Homem: Você é da igreja ali debaixo “Deus é Amor”? Eu: Não, não sou. Homem: De qual igreja você é? Eu: Não sou de nenhuma igreja Homem me olha como se eu fosse a encarnação do mal e se afasta rapidamente. Eu continuo a caminho do trabalho.

Xingamentos Solidários

Cabelo preso, calça jeans, moletom cinza, assim eu a via. Nossos horários se encontravam em quase todas as manhãs durante a semana, às vezes ela me cumprimentava. Numa manhã fria, na esquina de casa, quase fui atropelada por um carro grande que subiu na calçada: - Irresponsável - eu gritei trêmula. As palavras da vizinha que vinha logo atrás foram: - Bandido filho da puta! Neste dia, andamos lado a lado por dois quarteirões, xingando solidariamente o grandessíssimo filho da puta que quase me matou, daí simpatizei-me com a menina indignada, devia ter uns vinte, vinte e poucos anos no máximo. Demos “bom dia” ao Paulo, nosso vizinho morador de rua e foi a única vez que vi outro vizinho cumprimentar o Paulo. Pois bem, depois do susto seguido de redentores xingamentos, os cumprimentos passaram a ser constantes, às vezes até trocávamos algumas poucas palavras sobre a falta de iluminação da rua ou sobre algum barulho estranho durante a noite, ela morava no prédio em frente ao

Mito

A realidade me consome A rede social me consome A política é só desalento Até meu ópio, o futebol Já era...Esmagado por 7 golpes alemães felipados Ao som de panelas e patos amarelos Veio o golpe consolidado Vampiro no poder Se apropriaram da camisa da seleção! Que raiva...E foi piorando O vampiro se foi para o pior subir ao poder pelas escadas da facada regada à falsidade Sobre as lágrimas dos bons, o pulha tá eleito Tá lá o pulha ao lado do juizão idôneo Feito cocaína de talco Marielle morta por um braço sem cabeça Milícia e milico na moda 64 mais um golpe celebrado Os minions se ferrando e achando bonito Mito pisando na cabeça dos oprimidos Palmas para o chapeiro na embaixada! Parabéns pra você que vai sempre louvar E nunca se aposentar Feliz mito, Brasil! Sarau do Burro, 06 de agosto de 2019

Trava

Do dia que eu Era tua Mas era noite Que temia a hora Meu corpo te queria Mas tua vontade temia Arrefecia Nossos toques Roçam me coçam soltam Corpos Mal se encostam Inícios difíceis Pele desejada Engasgada Travada lábios levemente tocados despedida Beijo quase beijado.

Respiro

Não vou negar que está difícil Respirar Tá faltando ar Desde o golpe torpe Aquele que começou com 7 golpes certeiros e 1 golpinho de consolação que não consolou NADA Primeiro a gente tira... Depois a gente prende... Vida que segue Engolindo facada cara Sem Marielle Meritíssimo SUSPEITÍSSIMO! Mas eu nem queria falar disso Esquisito Tempo triste Insisto Sinto frio na garoa Pingos me lembram as palavras de Eveline “A chuva é o céu com saudade do chão” Respingos Respiro Sou irmã de poeta Tia daquele que vence Tenho no meu caminho Pedras Pedras belas Pedroca quer o mundo do jeito dele e inventa e canta, me encanta Pedrinho me apresentou a parte de sua galáxia, desde então tenho ao meu redor mais olhos poéticos Estelares, amigos Respiros Alento Vou amassando o pão que cresce lento e lindo Mergulho entre coloridos Sargentinhos sem patente Aprendo a respirar Embaixo d’água E venho para baixo da terr

A Cena

A melhor maneira de acabar um namoro simplesmente não existe, terminar uma relação amorosa é sempre uma merda, uma enorme, incômoda, mal cheirosa e necessária merda! Não é nada agradável tomar um pé na bunda, é triste, magoa, porém, se a decisão não foi sua, só resta conformar-se, a receita é chorar, desabafar com os amigos, ouvir uns chavões: “ Você vai arrumar alguém muito melhor” “Outros amores virão!” “Ele não sabe o que está perdendo” “Você é muita areia para o caminhãzinho dele” “Sempre achei que você merecia mais” Enquanto você repete aos prantos: “Eu não quero mais ninguém” Talvez depois de um bom porre, com certeza depois de dar o famoso tempo ao tempo, as coisas se ajeitam. Bom, depois de um dos foras que tomei pela vida, minha grande amiga Berenice invocou que eu tinha que conhecer um cara chamado Tácio. “- Amiga, o Tácio é a sua cara, tem tudo a ver, o mesmo gosto musical, simpático, seu tipo físico e ainda compõe e toca numa banda maravilhosa chamada