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Mostrando postagens de novembro, 2019

Meu primo morreu

Gustavo morreu, e eu sigo a vida, o trabalho.. É novembro, dia da consciência negra. Gustavo Adolfo, Adolfo era meu avô, que eu não conheci; Pego o metro gelado, seguro o apoio gelado Como meu primo deve estar. Cabelos loiros Boca desenhada Gelada Meu primo morreu Triste atormentado Meu primo morreu Meu tio morreu, minha tia morreu, minha avó morreu Meu avô morreu antes de eu nascer. Meu filho primogênito nasceu quando eu tinha 39 anos Os irmãos do meu filho não nasceram. Eu não morri ainda. Meu primo nasceu 9 anos depois de mim Meu primo morreu não sei quanto tempo antes de mim Meu primo tinha olhos castanhos, sorriso bonito Meu primo tinha seus tormentos, seus lamentos Eu só conheci suas cicatrizes, alas enraizaram e o mataram. Meu primo foi bebê, criança apegada a prima. Meu primo agora é morto, corpo. Meu primo morreu e eu fui almoçar num restaurante vegetariano. Meu primo não era vegetariano, eu não sou vegetariana. Será que te

NossaJam

O que é NossaJam? É um projeto que ocorre em uma sala no Centro de Referência da dança da Cidade de São Paulo, todas as quartas-feiras, a partir das 18 horas, consiste em encontros de improvisação de dança sem pauta prévia... O assunto veio à baila num happy hour de mesa grande no Amarelinho, nosso boteco frequente em Santa Cecília, os idealizadores do projeto estavam sentados ao meu lado, falávamos de nossas não-realizações profissionais e dos expedientes para sobrevivermos em tempos tão sombrios, Jean e Luana, meus vizinhos, são franco-brasileiros, fotógrafos, ele dançarino, ela tradutora, embora Jean pague as contas trabalhando como programador numa empresa coxa, no 1º sarau que organizei, a performance de Jean, contando sobre uma mariposa, foi sensacional... - A poesia e os saraus tem sido meu ópio, comentei – e ele me contou que a ocasião da Mariposa foi sua primeira experiência em sarau, que as palavras não são o forte dele e me convidou para experimentar improvisar na

Lamento

Eu lamento pelo mundo doente Pela canalhice vigente Pela empatia ausente Lamento pelo sangue perdido Pelo filho não nascido Pelo amor esvaído Lamento em meu choro contido E nas lágrimas escancaradas com o peito dilacerado pelo óleo derramado a história cortada a paixão desencantada Lamento o sorriso esquecido As lutas perdidas A felicidade sumida Lamento pela desigualdade constante Pela perda do instante Pelo final inevitável Saudoso do início memorável Lamento a morte A falta de sorte E depois de tanto lamento Escrevo O poema me foge A vida me acode A rima pobre me fode O grito eclode Puta que pariu tá foda! Mas tá na hora de acordar Respirar, levantar Bora poetizar Bora fazer arte Bora ser feliz (Viva o Sarau Embaixo da Terra!)