cantinho quentinho


Balanço as ancas esquecidas das costas cansadas
Meu corpo cisca, faísca
Risca o assoalho com pantufas
Barriga e mente vazias
Caminham como estrias
Até o vizinho poético
e invisível na noite fria
Abaixado sob o elevado?
Confinado no abrigo sem abraço?
O imagino aquecido e sorridente
Como se a imaginação
pudesse ser o que ele sente
Tão educado
olhos marejados ao falar do velho pai
“Seu” Tibiriçá ocupa minhas linhas
No cantinho quentinho
Cheio de meus pedaços em peças
Penduradas, espalhadas
Meu cantinho privilegiado em pijama aveludado
Realidade navalha sem falha parece longe
Mas fica bem ali na esquina
Alongo a cabeça feito o gato Chico adormecido
Chico viveu na rua metade da vida
Ainda sente gosto pela fuga
Mas se derrete todo afofando minha barriga
Enquanto pede cafuné.
O que fazia Chico antes do meu cafuné?
E Tibiriçá?
Tinha cantinho quentinho?
Que caminho trouxe meu vizinho
Até a quina sem ninho?


texto inspirado na música Navalha na Faca, de Alice Ruiz e Itamar Assumpção, exercício de criação literária proposto pela querida Anna Zepa - Programa Vocacional 2020.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alfabeto

Siga