Francisco
Não, agora não pretendo falar do
meu amado Chicão-pai, embora ele tenha participação nessa história, nem do
outro Chico, meu folgato. O Francisco é outro.
Quando me mudei para São Paulo,
aos 18 anos, uma das minhas prioridades era assistir a um show de Chico Buarque
de Holanda e um ano depois meu sonho materializou-se.
Já no início de 1994, Ana Paula,
amiga querida, que conheci no pensionato da Alameda Itu, veio munida do jornal
que continha a esperada notícia: Show de Chico Buarque em São Paulo, mais
precisamente na casa de shows Palace, no bairro Moema.
Viva! Pulamos e nos abraçamos no
corredor do pensionato Maria Imaculada, feito duas adolescentes que éramos.
Não, o ingresso não era barato,
mas tínhamos como conseguir o dinheiro suficiente, com alguma economia, eventos
aos finais de semana e boa ajuda de nossos queridos pais... Assim, logo estávamos
na fila do Palace escolhendo nossos lugares e logo é maneira mesmo de dizer,
porque pegamos um ônibus demorado, e enfrentamos um mar de gente antes de estarmos
cara a cara com a atendente do guichê, porém valeu a pena, saímos de lá com
caras felizes e ingressos nas mãos, nem o trânsito da volta nos desanimou.
Deve ter sido um mês ou mais
depois, só lembro que era uma noite linda de março e ansiosamente lindas
estávamos de novo na porta do Palace...
Uau! Era o que eu pensava a todo
momento, parecia um sonho, luzes do Palace, as pessoas no Palace, eu no Palace,
até espumante tomei...
Nossos lugares eram numa mesa
central mais para o fundo, puxa, como estávamos felizes, felicidade só
suplantada pelo anúncio da entrada de Chico Buarque de Holanda.
Caraca... acho que nunca tinha
batido palmas com tanta força:
“O meu pai era paulista, meu avô
pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano, vou na estrada há
muitos anos, sou um artista brasileiro”
Com a música Paratodos, o show
começou, ante meus olhos brilhantes, Chico reluzia aqueles olhos azuis
combinando com a camiseta da mesma cor,
O espetáculo era do disco
Paratodos, que eu conhecia muito bem da fita cassete que consegui gravar,
músicas mais antigas e conhecidas se intercalavam às novas, eu conhecia todas,
graças ao toca fitas preto que meu pai ouvia aos sábados e domingos de manhã,
quando a cozinha era só dele para quitutes experimentais que quase sempre davam
certo, sempre ao som de Chico Buarque e Maria Bethânia.
Memórias afetivas, som lindo:
Cálice, Sonho Impossível, Gota D’Água e tantas outras músicas íntimas
desfilavam ali e eis que: “Agora eu era herói e meu cavalo só falava inglês...”
Sim, ele cantou João e Maria, a
música que mais amava e amo... Sei lá se instintivamente ou flutuando, só sei
que foi assim: cheguei a beira do palco, lá estava eu cara a cara com o cara,
que além de ser o cara tem aqueles olhos azuis e canta João e Maria... Puta que
pariu.
Seja como for, porque ainda tudo
me parece sonho, depois disso, voltei para o pensionato, voltei à minha vida,
vivi muito bem e mais feliz depois daquela noite de outono mais que linda com
Chico Buarque.
O certo é que a vida passou, mais
de 23 anos correram, não sem que eu os aproveitasse com intensidade e eis que em
novembro de 2017, leio que Chico Buarque, que nunca tinha saído da minha vida,
podia a ela voltar pessoalmente com o Show Caravanas... Ah...
Bendita a hora que eu tive a
feliz ideia dar para minha mãe como presente pelos seus 65 anos um ingresso,
claro que eu teria que acompanhá-la, presente pra mim também!
Eba! Dezembro de 2017 e eu tenho
ingressos para ver Chico em 30/03/2018, providencialmente feriado para que
minha mãe possa se deslocar do interior para São Paulo.
Mais sorte ainda que não precisei
ir ao Tom Brasil, que é na puta que pariu, para comprar as entradas, já que a
internet muito facilita a vida.
Mais rápido passou o tempo desta
vez, deve ser porque não tenho mais 18 anos, mesmo sendo feriado foi uma sexta
de muito trabalho, eu estava cansada e feliz, minha mãe ”eleganterríma”, como
jamais serei. Desta vez, não precisamos de ônibus, o Uber estava na porta da
minha casa em menos de 5 minutos. Sim, a vida é mais fácil agora.
E o trajeto, apesar de longo, foi
agradável e rápido, o motorista baiano e de bom gosto musical colaborou.
Pronto! Chegamos ao Tom Brasil,
feito adolescentes, que não somos, tiramos fotos com cartazes...Muito felizes
mamãe e eu conversamos animadamente até que o sinais começaram a apitar e
entramos... Desta vez, a mesa era no camarote, de novo central, cumprimentamos
educadamente os parceiros de mesa, pedimos mais uma cerveja, pouco depois eu teria
18 anos de novo, porque, de novo, ele chegou cheio de luz, desta vez de preto,
o mesmo azul nos olhos... e minhas palmas, violentamente carinhosas, ecoaram no
meio de todas as outras.
“Minha embaixada chegou” foi a
primeira música, depois teve Mamembe, Partido Alto e toda aquela leva de
canções maravilhosas, que vivem em mim, de novo ali... Apaixonadamente,
aproveitei cada segundo de um show lindo e sabe que o Chico estava mais solto,
diria feliz, bem-humorado, arriscaria dizer que está apaixonado como eu,
infelizmente, não por mim, mas pode até ser pela Bia, que canta com ele e tem
uma voz que também me apaixonou.
Teve “Gota D’Água”, “Tua Cantiga”,
que é nova, mas que eu já amava e “As Vitrines” e bis com “Geni”, não teve “João
e Maria”, talvez porque me esqueci de avisá-lo que iria... Sonho meu...Mas teve
um “Fora Temer” lindo, acompanhado pelo violão de Chico... e ainda um segundo
bis com “Paratodos”, aquela mesma música que iniciou nosso primeiro encontro
pessoal... Pode ser que ele tenha adivinhado que eu iria...
Evidentemente há muitas coisas que
eu não entendo nesse mundo estranho e louco, mas o que eu menos entendo depois
do meu último encontro com Francisco é: Como alguém pode não amá-lo?
E não tentem me explicar porque,
graças a Deus, eu nunca vou entender mesmo!
Muitas e muitas coisas mudaram na
minha vida nos últimos 24 anos, mas meu amor por Chico Buarque de Holanda, esse
permanece inalterado.
Para sempre Chico.
#chicobuarque #chicobuarquedeholanda
#chicobuarque #chicobuarquedeholanda
Comentários