Calor Intenso


Como é difícil voltar, como os ânimos são diferentes, as vozes aqui são mais sufocadas, todos estão oprimidos e não há nada que eu faça, mesmo o que me dá prazer, que não me faça lembrar, como é bom estar na Ilha da Cardoso.
Foram apenas 12 dias, mas 12 dias tão intensos, que valeram por muito mais.
Queridíssimo Lion-Terrível, que me avisou deste Paraíso e consolidou de vez nossa amizade.
Desde o barco, o contato com o mar, montar a barraca, gritar “Calor!” cada vez que alguém colocava o pé no Camping.
No começo, tanta espontaneidade, tanta natureza e tanta loucura me atordoaram, me deixaram sem saber o que fazer, eu nem sabia o que estava acontecendo comigo, me perdia no mar escuro e no azul do vermelho, senti em dias coisas que eu evitava há muito tempo, me derreti, sofri, me diverti, gritei e ardi e só estava no 3º dia, eu acho, porque lá, o tempo não importa.
Sempre me perdendo e me achando fui me ligando cada vez mais à Ilha, me encantando com os passarinhos, me superando nas pedras e observando o calango vizinho, ouvindo o som do mangue e do mar, dançando sob o sol e cantando a beira-mar, estendida em cangas coloridas, observando crianças encantadas ou admirando os botos simpáticos.
Ah, tanta coisa aconteceu, tanta gente apareceu, que eu nem sei como expressar tudo, cada um poderia ser um personagem para ser descrito em diversas páginas.
E os Calor!!!! pescadores engraçados e animados, que me nomearam Juditinha do Mar, dividiram o nhoque, o sushi, o macarrão e muitos causos, era impossível parar de rir, Pedro de Lara era o mais animado.
Quanta gente, que alegria, que doideira.
A chuva e a cabeça na areia, os sons, a dança, o triângulo e o por do sol que me fez chorar. A indecisão, o banho noturno de mar, o maracatu, o camarão e o ciúme, a cerveja, o Bar do Beto com a voz de Kléber Albuquerque, os violões e a ciranda
O chapéu de palha que apareceu de repente trazendo mais gente, banho de estrelas, despedidas tranqüilas.
Uma paixão azul e vermelha permeava o tempo todo, se consolidando e se adaptando e andando.
Dividir a casa, viajar no amigo e voltar atrás.
E o vizinho da frente que fazia chá, arroz carreteiro, dormia na rede e tomava doce, uma figura ímpar.
O vizinho doideira, de olhos multicolores, que passou comigo o “Perdidos no Reveillon”, mas com Calor! tudo se achava.
As amigas novas e doidas que riam sem parar e filtravam sonhos. E por falar em sonhos, quantos sonhos loucos e que encontro bom ver Onofre de vermelho.
O vizinho cabeludo ficou doente, sarou e cortou lenha.
A energia era muita, era boa, atordoante.
Na calmaria de uma cerveja, quase uma explosão valdetiana, para a balada ir até nós, com amostra de Cataia, de sons clássicos, sol, pescaria, tcherinas e capetas-mustá.
E quando eu quase ia embora, resolvi ficar e foi ainda melhor, depois de uma tarde febril e uma corrida alucinante e molhada, a melhor balada aconteceria, depois de abastecer os músicos e dançar muito, eu descobri o melhor gosto da Ilha, envolta numa energia indescritível passei a noite nos braços do moço de fala mansa e olhos tranqüilos que me cobriu de beijos, me envolveu na capa de chuva e me pediu pra ficar... Fui embora antes de me derreter de vez.
Voltei cantando dividida entre o gosto dos olhos tranqüilos e os azuis vermelhos e complicados
A passagem por Cananéia, regada a Maria-Mole amenizou o choque da volta, quando o telefone voltou a pegar, vozes cansadas, sem energia, aumentaram ainda mais minha vontade de voltar para a Ilha, mas os amigos, as boas lembranças me deram alento para voltar à realidade e cá estou.

Fotos em:
http://br.pg.photos.yahoo.com/ph/claudiacax/album?.dir=/e342scd&.src=ph&.tok=ph6miPGBvNlShG

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