O Perfume (não o de Süskind)


Quando eu tinha 16 anos e cursava o 2º Colegial no Colégio Soares de Oliveira, em 1992, a pedido da Profª Lucília, eu li “O Perfume”, de Patrick Süskind, foi uma boa experiência, li o livro de um um dia para o outro, de última hora, mas fiquei feliz por conseguir ler tão rápido e gostei do livro, sempre me lembro de partes inteiras dele, o que acontece somente com mais um ou dois.
Na semana passada, amargamente lembrei-me deste livro, mas não foi nada bom.
Com o intuito de aprimorar meus conhecimentos artísticos, inscrevi-me numa oficina de teatro no espaço Cultural Mazzaropi. Feliz por ter conseguido uma disputada vaga, lá fui eu animadamente rumo a zona leste, enfrentando ônibus elétrico lotado, atrasado e posteriormente quebrado. Mesmo assim cheguei a tempo.
Todo mundo feliz, se cumprimentando, aquela conhecida coisa de início de um curso, de novas amizades, de um processo conjunto. Até aí tudo tranqüilo. Pouco tempo depois eu já estava achando aquele negócio de “ Você sabe abraçar? Abrace de verdade, tudo sem maldade...” meio estranho, mesmo porque, o rapaz ao meu lado, assumidamente gay, torceu o nariz para me abraçar, à procura de um menino bonito.
À essa altura eu já estava pensando: Por que eu me meti em uma terapia para problemáticos sexuais? Mas, em seguida, encontrei algumas pessoas mais inocentes e mais éticas e me confortei: "É apenas uma bichinha mal resolvida em meio a atores que querem aprender."
Uns quatro abraços depois, em outro exercício, enxergo 90% do grupo sofrendo de canastrice aguda e o diretor do curso me ignorando, não me chamando para nenhum exercício. Ok! Talvez seja necessário uma experiência em que eu tenha que provar meu possível talento para uma pessoa que não me conhece e nem simpatiza comigo. Até aí eu estava achando tudo uma experiência, talvez desnecessária, mas uma experiência, mas eis que ficamos 30 pessoas deitadas no chão se amontoando, a pedido do diretor e no meu apertado núcleo alguém libera um gás mal-cheiroso.
Situação constrangedora, daquela que todos fingem que não ocorreu, primeira etapa do perfume,
Em seguida fui designada para fazer um exercício de confiança e proximidade com uma pessoa que não tomava banho há, no mínimo, uns três dias, o cheiro era tão horrível e tão forte que me dava náuseas, eu tive que me segurar para não vomitar várias vezes e eu juro que nem tenho olfato apurado, mas a coisa estava num nível, que mesmo agora quando eu lembro... É minha pior memória olfativa, seria cômico, se não fosse trágico. Tentei ver o lado bom: Uma memória emotivo-olfativa traumatizante que pode me ajudar no processo Stanislavski, um melhor desenvolvimento do controle do meu estomago, um tópico no blog....
Mas, na verdade, eu penso muito mais: Por que tinha que ser comigo?
Só acontece comigo? Cair numa oficina de terapia do abraço com um porcão?
(Que me desculpem os porcos)

Comentários

Anônimo disse…
bem, para mim a experiência traumática já se daria na parte do abraço. seja o povo porcão ou não: essa história de abraçar e fazer que ama e que sorri ao estranho não é comigo.
ninguém é obrigado a ir até a Zona Leste pra cheirar pum dos outros.
affe, cax.
medo dessa turma, muito medo.
salve-se enquanto puder.
Há tantos perfumes bons por aí....
;-)

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