Cabelo preso, calça jeans, moletom cinza, assim eu a via. Nossos horários se encontravam em quase todas as manhãs durante a semana, às vezes ela me cumprimentava. Numa manhã fria, na esquina de casa, quase fui atropelada por um carro grande que subiu na calçada: - Irresponsável - eu gritei trêmula. As palavras da vizinha que vinha logo atrás foram: - Bandido filho da puta! Neste dia, andamos lado a lado por dois quarteirões, xingando solidariamente o grandessíssimo filho da puta que quase me matou, daí simpatizei-me com a menina indignada, devia ter uns vinte, vinte e poucos anos no máximo. Demos “bom dia” ao Paulo, nosso vizinho morador de rua e foi a única vez que vi outro vizinho cumprimentar o Paulo. Pois bem, depois do susto seguido de redentores xingamentos, os cumprimentos passaram a ser constantes, às vezes até trocávamos algumas poucas palavras sobre a falta de iluminação da rua ou sobre algum barulho estranho durante a noite, ela morava no prédio em frente ao ...