Ainda que esfrie, chova e que pulhas estejam no poder empenhados na destruição Ainda que o governador seja de cera e o Presidente de milícia racista Ainda que o Tribunal seja machista, retrógrado, homofóbico, quase fascista Ainda que Damaris continue goiabando e os ministros laranjando Ainda que tudo pareça uma piada de mal gosto ou um pesadelo sem educação Ainda que o inverno demore e os olhos transbordem Ainda que a tristeza venha e as veias desanimem Ainda que o verde queime e o vermelho seja condenado Ainda que existam tantos “ainda ques” Ainda assim, não podemos perder a ternura O rio há de retomar seu curso, a história não será soterrada para sempre Os olhos voltarão a se abrir Quando o tempo dos pulhas acabar, eles provarão do fel que agora nos oferecem e não saberão cantar, nem pintar, nem poetizar, nem abraçar... Negam a arte, serão sempre cegos, sem tato, nem olfato, nem sorriso, nem sentido Nem poderão chorar no ombro amigo Porque eles não sab...