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Mostrando postagens de 2007

Perdas Estranhas

As imagens passam na minha cabeça, ouço aqueles sons, aqueles gostos, mais imagens... Um escrito laranja, uma foto no portãozinho verde do clube, carnaval, filé ao molho madeira, a escadaria ao lado padaria, bateria, piano, o cabelo da mãe, a 43. O Juninho, o irmão do Jôly, morreu. Ele também era irmão do Gilbert, filho do Zé Luiz, que trabalhava com meu pai e da Valdeci que tinha o cabelo grande. Jogava vôlei, era bem atraente na adolescência, cabelos pretos, forte, bacana, engraçado. Namorou a Márcia. Um dia, fizemos a brincadeira do copo. Num tempo, estivemos juntos quase todo o tempo. Nesse tempo ele queria fazer medicina, soube que fez, como soube que foi morar em Uberlândia, que casou, teve filhos. Nunca mais nos vimos, nem nos veremos. Tristeza estranha. Como pode acontecer algo assim? Algo que acontece o tempo todo... Adeus sempre tem, dito, anunciado, constado, sempre difícil, inacreditável, alheiamente concretizado.

Quebra

Os palhaços se foram e me deixaram perdida, triste, sem rumo e sem fé. Sinto falta da minha fé.... Otimismo ido. Muito barulho por nada, muito esforço pra quase nada, muita DR pra nada, muita paixão desperdiçada. Fim sem meio, sem concretização Nada que paira... Poeira... Vazio onde havia superação. Vazio onde havia palhaçada. Vazia eu. Oca. Grande e oca. Sinto falta da tia Alva. Sinto falta de mim.

Norberto

Fim de expediente longo, desanimado, chato... De segunda deprimente Sono e tristeza desmotivada me apertam o peito. Saio mais cedo, sonolenta e desanimada.. No farol da Clóvis, bem na minha frente cai o Norberto da moto que foi uns metros para frente. Norberto não consegue levantar. Eu chamo o resgate. Fazemos sinal para os carros não atropelarem Norberto. Eu ligo para o trabalho dele. Ele continua lá caído, cheio de dor, os bombeiros chegam e eu me vou com a minha dor desanimada tão ridícula perto da do Norberto... Mais ainda perto da moça que pede esmola do lado da criança, que parece tão predestinada ao um futuro tão curto e cruel. Eu sigo, passo no mercado para gastar o dinheiro que não tenho. E volto para casa, ainda desanimada, mas com vergonha de tanta preguiça e depressão desmotivada, que resolvo até ler, até escrever, até estudar, até reagir. Boa sorte Norberto!

Finalmente

Sexta quente cansaço latente descanso iminente fim de semana contente

Frialdade

fri:al.da.de Substantivo feminino. 1.Qualidade ou estado de frio; friúra, frieza. 2.Tempo frio. 3.Falta de ardor; insensibilidade, frigidez, frieza. s. f., estado daquilo que é frio; tempo frio; frio atmosférico; fig., insensibilidade; desinteresse; desapego; frigidez; impotência. substantivo feminino 1.qualidade, característica do que apresenta baixa temperatura; frieza 2.tempo frio, friagem 3.Derivação: sentido figurado. característica, atributo de quem demonstra insensibilidade, indiferença para com outrem 4.Derivação: sentido figurado ausência de afeto, de calor; frigidez, frieza

O Desabafo do Bêbado

"O interessante é que os pobres sempre lamentam a morte dos ricos, mas os ricos nunca lamentam a morte dos pobres." (frase ouvida no vagão do metrô, dita por um senhor aparentemente bêbado)

Levantar

Levanta, sacode a poeira E dá a volta por cima... Levantar Andar Correr Viver Sorrir Prosseguir Fui...

Tristeza

do Lat. tristitia s. f., qualidade ou estado de triste; consternação; dó; aspecto que revela mágoa ou aflição; melancolia; angústia. A tela branca parece zombar de mim, enquanto meu peito aperta, minhas entranhas se contorcem. Eu me esforço para parecer equilibrada, centrada, para atender bem e explicar sobre o prazo recursal fatal. Está tudo normal, enquanto minha vontade é chorar e chorar e chorar e gritar e rasgar e chutar e sumir.

Desencanto

Substantivo masculino. 1.Desencantamento. 2.Desilusão, desapontamento. Desencantar tirar o encanto a; desenganar; desiludir; achar ou descobrir o que estava perdido; v. refl., perder o encantamento Tarde ensolarada Eu desencantada

A Senhora da Passarela

Certo final de tarde ao passar pela passarela da Avenida Rebouças vi uma senhora negra de cara sofrida, lenço na cabeça, havia uma faixa enrolada em torno do seu tornozelo esquerdo, ela mancava, carregava uma sacola e andava muito devagar, quase se arrastando em direção ao Hospital das Clínicas. Caía uma chuva fina, ventava: Típico tempinho chato que costuma me deixar de mau humor. Eu estava atrasada para a primeira aula de um cursinho de trânsito, cogitei ajudá-la, mas não ajudei. Pensei: Estou atrasada! Não me convenci, afinal, eu estou sempre atrasada. Quarteirões à frente ainda olhei para trás, mas não voltei. Será que alguém a ajudou? Por que não fui eu? Será que todo mundo que passou por ali também estava atrasado e não podia ajudá-la? Talvez todo mundo tivesse uma desculpa convincente para si, eu não. Cheguei ao tal cursinho, a aula demorou a começar e eu fiquei lá sem ter o que fazer no meio de um monte de gente que eu não conhecia. Esperei longos minutos que me repetiram inces

de pouco muita

Saudade de pouca distância de pouco tempo Saudade-Vontade de grudar nem separar Saudade-Apaixonada que aperta o peito feito lua cheia que não chega.

Quixote

Palavras desnecessárias metáfora fábula personagens vagantes flutuantes emocionantes Baba Pança alcança lágrimas bicicleta crianças felicidade saudade triste despedida gravada obrigada

Sobrepeso

Sobrepesada Ouvidos tapados A viola me oscila Terapeuticas amigas salvam Os sentidos me confundem mal A profusão se difunde Eu me floro devoro bebo choro comemoro decido aposto no agora bem.

Queimada Varrida

Os sentimentos não mudam feito queimada varrida Lavada Eu, profusa, sempre perdida Sem coragem de ir Cheia de medo À espera Do que não vem Decepcionada Não fiz Queria Limpa Confusa Difusa Chapada E muito mais Sem mais

O Saca-Rolhas

Então, chegou o inverno, época de virar mulher-almofada. Se alguma coisa me alegra no inverno é o vinho tinto... Como gosto! Na primeira tentativa, meu saca-olhas quebrou, mais ainda assim abriu o néctar... Perambulando pelo Hirota, comprei o saca-rolhas de R$ 13,19.... Um fiasco! Não quebrou, despedaçou-se na 1ª tentativa... Frustrante! Revoltante. Chegou o dia do fondue(mais uma das poucas vantagens do inverno!) não tinha saca-rolhas... Para tristeza, o saca-rolhas Econ de R$2,15 quebrou na primeira e a técnica do afundamento falhou... A namorada do vizinho nos presenteou com o canivete-saca-rolhas... Que quebrou de cara... Difícil demais a cabaça de Santa Carolina, só liberada em 25%, sofridamente, com martelo! A incompetência do saca-rolhas me revolta... O moço simpático da Iracema, com dificuldade, consegue abrir a nova garrafa. Diversão, fondue e vinho assegurados. E eu a me perguntar: Como é mesmo relacionar?

Amar/Pirar/Apaixonar

Sensação tão boa, que dá medo! Medo de perder, de largar, de não ir, de ir, tanto medo... Sensação de não saber mais... Como é mesmo? Tudo me parece tão assustadoramente bom e tão assustadoramente... Que dá me medo de acabar, de não continuar, de continuar... Dúvida Dúvida, se a solidão não é melhor: Mais calma e centrada, apesar de solitária... Medo de perder de tanto falar, de não falar e de perder de tanto ficar... Profusa Adoro a palavra profusa, deve ser a palavra de quem não sabe o que quer, como eu. Mas eu quero... Sei que quero, só não sei o que fazer... Cubo mágico, Genius, nunca entendi direito essas coisas... Nunca acreditei de verdade em... Nisso Continuo gostando da palavra profusa, mas sei que já estou langada e mais nada Nada! Estou desencaixada.

l e v e

De repente, inesperadamente, caminhando nas Salinas e surpreendentemente, pelos Montes, a solução chegou a meio-termo, em realismo e alívio. Um sonho! Corremos para a Toca, celebrando com Seleta e caldinho o fim da angustia. O dia amanheceu gelado e leve.

Branco Transparente

Ontem percebi que preciso decidir Ficar ou partir Ontem percebi que não consigo decidir. Ninguém casa pensando em separação Ontem assisti ao teatro Kaus Nunca terminei um casamento Ontem revi meus amigos Nunca casei Ontem bebi vinho Parece divórcio Ontem falei ao telefone Como é difícil Ontem fui ao supermercado A decisão de partir me traz vazio Ontem comprei rodo e vassoura A decisão de ficar me pesa e cansa Ontem comi um sanduíche de mortadela-muleta Quando eu sair serei traidora-ingrata Ontem dormi tarde e sonhei Queria que houvesse um meio-termo Hoje vi a água jorrar da fonte Não há o meio-termo Hoje o prédio está vestido de branco transparente Ficar ou abandonar Hoje continuo sem saber o que fazer Não quero ficar nem abandonar

fim de tarde

E a tarde que estava tão fria e chata, de repente ficou tão carioca e alegre que eu até resolvi ensinar e cantar para esperar a sexta findar.

nuvens

Às vezes, me sinto tão nublada, tão confusa, tão tumultuada, tão cheia, tão vazia... Às vezes, preciso ver o sol.

Dicionário e Nelson

paciência do Lat. patientia s. f., qualidade de paciente; resignação; conformidade em suportar os males ou os incômodos sem se queixar; perseverança tranqüila; calma na continuação de qualquer tarefa ainda que esta seja difícil ou muito demorada; tranquilidade com que se espera aquilo que tarda; nome de certos jogos de cartas; interj., designativa de resignação ou conformidade. (fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx ) Já dizia Nelson Rodrigues : A burrice é invencível...

Frio enterrado

Hoje está frio, sem chuva. Sair da cama nesses dias é sempre difícil. Sonhei com o enterro da Vovó Gerônima, ela morreu quando eu tinha 13 anos, não sei porque sonhei com uma versão estranha do funeral. O celular despertou, mas não consegui acordar às 7 para dar bom dia. Cama, coberta e comida me são tão apaixonantes no inverno. Consegui chegar ao trabalho, só faltava a disposição... Porém, telefonemas, ironias, datas e acórdãos errados quase me derrubam, sorte que não é TPM, senão poderia haver um surto... Preciso de yoga, zenzice, paciência, pensamento positivo (que O Segredo me ajude) e muito, mas muito mesmo, bom humor (mesmo o clima não ajudando). Sampa, 11ºC

Irritação

(do Miniaurélio: ir.ri.ta.ção Substantivo feminino. 1.Ato ou efeito de irritar. 2.Estado de irritabilidade, mau humor, exasperação em que alguém se encontra. ) O estagiário perdido me irritou, o advogado rebuscado mais ainda, o ternoso metido e cheio de perguntas me irritou, a advogada arrogante mais ainda. O trabalhou me irritou, as pessoas mais ainda. Finalmente o dia terminou, cheguei em casa, fiquei descalça e me joguei no sofá... Aí tive uma luz: O que me irritava era o sapato alto e desconfortável.

Uma Despedida

Chegando de verde sob os olhares palhaços dos palhaços, tudo ia bem, estávamos felizes (embora ressaqueados). Carregamos os carros e participamos do episódio: Perdidos em Itaquá , chegamos, descarregamos, trepamos nas colunas de luz, montamos, comemos, nos maquiamos e nos apresentamos para uma platéia maravilhosa. Tia Alva dançava pela última vez para o fon fon nas mãos risonhas. A formiguinha respondeu à despedida definitiva do palhaço apaixonado. O espetáculo terminou, pela última vez, em risadas. Tudo desmontado, o sol se punha no caminho de volta. E o fim... O fim mesmo, cheio de drama e mágoa, não merece comentários, não foi um fim digno para o maravilhoso bando de palhaços, tia Alva o desconsidera. Prefiro lembrar da risada de Pititico, dos olhos de Piluko, do andar de Franjola, da inocência de Anjo, da dança de Biscuila e da música de Pindoba. Prefiro lembrar, não de toda a dificuldade de Tia Alva, mas dos amigos inesquecíveis que ganhei, das crianças que fomos, somos, conhecemo

Mar de Guarda-Chuvas

Acordo, sem chance de dar bom dia, vejo a chuva caindo no quintal, sinto frio e preguiça. Na praça, o vendedor desesperado, parece cheirado e grita sem parar: Guarda-chuva é cinco! A faixa de pedestres parece um mar de guarda-chuvas coloridos, vários azulados. Adentro, atrasada, o local de trabalho. O que eu mais preciso é paciência. Que ela venha.

Sentido

Idealizando tudo resolvido, vi a resolução tão distante. O sentido perto e a cachoeira jorrando. Tudo me faz tão mal e tão inevitavelmente. Parece vacina obrigatória e doída. Eu me sinto tão e tão inundada. E tão mais nada.

O ônibus

Ontem, quando eu saí do trabalho, um ônibus articulado me deu medo, tive a impressão de que a parte traseira não articularia e atingiria os pedestres que aguardavam o farol, inclusive eu, que recuei instintivamente para quase dentro do bar da esquina. O ônibus articulou e não acertou ninguém eu e todos os outros que estavam ao meu lado, seguimos nosso caminho. Hoje de manhã, a história foi diferente, um ônibus atropelou quatro pessoas , uma morreu na hora. Hoje eu cheguei mais tarde ao trabalho, desliguei o despertador e fiquei sonhando com Recife, não sei porque... O local do acidente é próximo ao meu trabalho, por onde eu passo quase todos os dias saindo do metrô, o horário do acidente coincide com o horário que eu cheguei ao trabalho ontem. Toda vez que a morte passa perto de nós, é inevitável pensarmos no assunto. Parte da minha família é, eu digo, bastante mórbida, vários de meus parentes gostam deveras de falar de mortes e tragédias. Na cidade onde nasci, nas esquinas principais,

Missa Conga

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No domingo, 29 de abril de 2007, acordei e fui à missa no Largo do Payssandu. A caminho, pelo sol, ao longo da São João , pela Virada , encontrei punks, zens, velhos, crianças, jovens, bêbados e beatos de todas as cores. Em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos , a entrada do padre e o batuque contagiante tanto contrastavam quanto se completavam, assim como os olhos do menino africano no colo do pai, os cabelos dourados da menina na barra da mãe, a perplexidade da alva mulher ao meu lado, a emoção do branco rasta e as muitas cores e sons dos grupos de congada . De vários locais do Brasil, viam-se diferentes semblantes, batucadas e fés. Meu passado católico aliou-se às minhas profundas raízes africanas e brasilianas, meu pés não pararam, meu corpo se entregou ao belo ritual, meus olhos se inundaram. De repente, estávamos todos de mãos dadas, atados pela mesma energia. A profusão daquele momento é inacessível neste. Mas, inesquecível. * TODAS AS FOTOS *

Florida

Fresca, com o mesmo cheiro de dove nos cabelos, florida, colorida em poesia, saí para o dia. Não havia sol, e eu estava ensolarada, enluarada, na ausência da lua. O barulho era dos carros, mas meus ouvidos insistiam em escutar o mar! Eu tinha sono, mas ao invés de fechar os olhos, sorria...

Conto de escada

Na saída do mercado, com o vinho na mão, ela encontrou o vizinho. Cumprimentos formais. Chegaram juntos ao prédio. Ele puxou conversa, ela estranhou e sentiu-se profundamente acanhada quando os dois olhos cor de azeitona a encararam. (Aquele rapazola estava intimidando a mulher resolvida do alto de seus 41 anos?!) Era inacreditável e embaraçoso, ela mal conseguia responder às triviais perguntas. Chegaram em frente aos respectivos apartamentos. Ela procurava a chave. Ele, de chave na mão, continuava a falar. Ela se despediu amarelamente, ele tocou seu ombro, ela, trêmula, logo entrou e trancou a porta. Para revolta da resolução, o jovem vizinho roubara-lhe o sossego e os pensamentos.

Combina

De repente eu olhei e vi e reparei: Ele combina com o teto, com o azulejo, com o cômodo, com o cantinho, nem sei explicar, só reparei que combina como eu nunca havia reparado que alguém combinasse tão bem. E aí, como se não bastasse, depois, também reparei, sem querer, que ele combinava mesmo onde não estava... O triângulo saiu do bolso, estava tudo tão bem, mesmo assim faltava... Faltava a presença que ali me combinava, me convenci a não me importar, me importei. E dancei até o dia clarear.

21 minutos depois

Como não ouvi, não atendi, quando vi, titubeei, mas não retornei, como um grito de libertação que suprimiria o indesejado, como a luz de uma sabia decisão. Dormi.

A Garôa e o Álcool

Cheguei à Secretaria (que é o boteco onde almoço) já passava das 2 hrs., a feijoada já havia acabado, mesmo assim, consegui a caipirinha para amenizar o frio. Eu, tomando meu drink discretamente à espera do milanesa. Chegam dois respeitáveis senhores do meu trabalho, enquanto eu pensava em esconder meu copo, os respeitáveis pediram uma vodka e um vinho seco vagabundo. Curiosamente, todos no boteco, estavam rindo, de bom humor, apesar do frio, da garôa e do vento cortante. Fiz amizade com um senhor de boina, etilicamente feliz, que reforma sofás (muito útil, já que meu sofá está precisando de um trato). Reparei que o chapeiro bebericava entre uma calabresa e um omelete e pouco depois já estava agradando a garçonete bonitinha (eu já desconfiava da paquera). Na saída, ainda encontrei o meu gerente do banco sorridente, de copinho na mão, era café, mas estava com cara de quem experimentou a caipirinha...

Tempo amigo

Há tempos atrás, há uns 12 anos, a música Sobre o Tempo , do Pato Fu, era mote do meu namoro, e o detalhe é que cantávamos Fique comigo, seja legal mas na verdade a música dizia Tempo amigo, seja legal Hoje, sem tempo, pensei nisso, na verdade, pensei no tempo para o teatro, para a Confraria da Paixão, no tempo de ser tia e brincar, tempo de ler, comer, tempo pra ver desenho e filme, pra ir ao cinema, tempo pra alongar e correr e exercitar, tempo para pensar, pra querer, pra rejeitar, tempo pra ser filha, neta, tempo de família, tempo de ser sincera e de deixar passar, de aprender, de observar e participar, de agradecer, de ir, de voltar atrás, tempo de ser política, de trabalhar, de lidar, de ser boa profissional, de ser até advogada, tempo para os amigos: os de lá, os de cá, dantes, de agora, tempo de pentear e pensar e lavar e dormir e acordar e chorar (pouco tempo) tempo pra escrever e tempo de sorrir (muito tempo) e dançar e cantar e beber e beijar e viajar e bagunçar e arrumar

Oh Darling!

Acordei 9:59, meu vizinho cantava junto com o disco, com emoção vazada: Oh Darling... Please believe me! Já acordei rindo, puxei a cortina azul e vi o céu azulado por trás do prédio amarelo iluminado pelo sol amarelo-avermelhado. Um dia bonito, ou melhor, lindo! E o vizinho cantante: Oh oh oh... Lá! Lá!! Lá!!! E eu, que continuo a rir, nem vou ligar meu rádio. Adoro vizinhos animados. E seguiu o dia com roupa no varal, almoço dançante com o melhor amigo, caminhada sob lua na passarela de pedra, exercício, risada e Forró do Tranquilino na Confraria da Paixão e terminou com poesia e a secretária eletrônica me dizendo exatamente o que eu queria ouvir. Êta Dia do Trabaio bão! Sampa, 1º de maio de 2007

Langada

Pós samba, pré-festa, a vila, na Mariana, me esperava. Na chegada, meus sentidos já adivinhavam, previam e miravam. A noite amanheceria clara, eu, nublada, langada.

A sorrir eu pretendo levar a vida

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Para começar bem a semana O Sol Nascerá Cartola Composição: Cartola A sorrir Eu pretendo levar a vida Pois chorando Eu vi a mocidade Perdida Fim da tempestade O sol nascerá Fim desta saudade Hei de ter outro alguém apara amar A sorrir Eu pretendo levar a vida Pois chorando Eu vi a mocidade Perdida

Quebra-copos

Eu nada pensava em quebrar, estava largada no sofá, mas um terrível amigo me convenceu, com bons argumentos, a quebrar a ressaca e ir sambar. Domingo, u Ó! Lá fui eu, inocente, de preto, já animada. Conversa, cerveja e samba, samba, conversa e cerveja. Dancei com o Rodrigo e quem era o Rodrigo? Era o aniversariante, é o que sei. Na volta para a pista, eu não sabia o nome do belo sambista que sorria e não sabia sambar, mas ele me puxou pra dançar, o copo espatifou no chão. Descobri que ele sabia quebrar e beijar! Foi aí que eu pensei: Que bom que eu parei de quebrar garrafas e me machucar, muito melhor beijar e deixar que quebrem os copos por mim.

Coin

Quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente, eu nasci com o samba, no samba me criei e do danado do samba, nunca me separei Repetições, talvez, imprecisas, de um dia doido, começado com restos a pagar de Havana e terminado filosoficamente com Ramos e Niemayer na esquina da Iracema. Dia acarretado de segredo positivo e meu time fazendo papelão no samba que anoitecia nos olhos do sãopaulino inveterado e chorado no balcão. Coincidências terríveis, incríveis e, sobretudo, cariocas, estupefaram um coração azul desavisado. Que venham outros: Sambas, cabelos e sobretudo, encontros tão bons, inesperados, planejados pelo acaso, e que o acaso seja bom... Bom final de semana E eu, que já queria ser jornalista...

Santiago

Não era Santiago, era exposição. Ela de azul, lia. Ele, de branco, falava com sotaque Ela se virou, sem acreditar, nem conseguir falar... Foram interrompidos pelo silêncio, pela surpresa, pelos amigos. Então, ele falou, mas não foi, ficou... Por fim, partiu, sem saber que roubara todos os pensamentos daquela mulher. Piegasmente destinados se sentiam, ainda não sabiam, logo se reencontrariam, se amariam se fariam felizes.

Reticendo

E quando a indiferença instalada já acomodada, fazia ponto, o ponto da quebra. Eu já estava de saída... Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, o sentido reapareceu e irritou os profusos, confusos, entranhados, pedaços de afeto. Repeti palavras, como no primário. Respirei fundo e deixei a água morna cair. O dia está começando.

entretrechos

eu passaria a vida toda ao lado dessa bunda Um corpo é primariamente um encontro com outros corpos (David Lapoujade) Ontem quando garrafa quebrou, ficou claro: Me faz mal (ponto). Mas os cacos não mais ferirão minha pele Deixarei de quebrar a garrafa. a sorrir eu pretendo levar a vida

Cenas do centro

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João e Wellingon Hoje, quando saí do trabalho, encontrei Wellington sentado no Páteo do Colégio, com João dormindo em seu colo. Pedi para fotografá-los, o dono de João concordou. Mais tarde, saindo da Caixa Cultural, encontrei novamente a dupla, João carregava na boca sua coleira, Wellington me reconheceu logo, fiquei amiga de João que estava animado e amável, tirei mais algumas fotos. Nas palavras de Wellington: Este cachorro é muito inteligente só falta falar... Eu acredito! João e Wellingon

sexta-feira 13

nublada, lenta, animada, piscada, arrastada, sonora e mutante.

Hoje

em mim, a alegria está calada. Talvez, ausente. No barulho minha tristeza silenciou No silêncio minha alegria calou.

Silêncio

Para que ninguém possa ver no fundo de mim e a minha última vontade para isso inventei o longo, luminoso silêncio Quanto mais os vigiava e ficava à espera, mais me convencia de que mesmo à falta de qualquer outra prova, o silêncio sistemático de ambos constituía prova suficiente Hesitamos em fazer a pergunta porque não queremos ouvir a resposta Prosseguimos em silêncio Em tempos de silêncio generalizado conformar-se com a mudez dos outros é certamente culpável Debaixo do silêncio Eu não sei o que traziam Exposição Sob Neblina (Em Segredo) de Marilá Dardot Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo

Franco Aeeê!

O caminho começou estranho, mas se desenrolou bem, em quente temperatura. Salão amplo e colorido, cenário montado, biombo e camarim improvisados. Alongamento e dança afro na lona, espelhos pendurados, maquiagem colorida. O calor aperta, Pindoba recepciona a criançada que toma conta. Sala cheia, música, balões, vozes, gritinhos. Aeeê! Os músicos entram: Pititico, o maestro, rege a orquestra, Piluco flautista logo conquista os pequenos corações, Biscuila aparece em amarelo por detrás do violoncelo. Começa o concerto. Pausa breve. Dançarinos empolgados: Franjola em cores e animação, tia Alva atrasada, Anjinho enquepado. Entre sorrisos e barulhos tantos, a palhaçada corre solta no meio da garotada, que se diverte e desconfia do palhaço exibido, vigia tia Alva, se encanta com Piluco, ri de Pindoba, torce por Julieta, é penteada por Anjola e escorrega com Franjola. Risadas finais, espetáculo findo. Coelhinhos de papel correm pelo palco e adotam os palhaços que desmontam e assistem às pirueta

João e Wellington

A primeira vez que vi Wellington, ele estava atravessando a rua, todo orgulhoso de João, que carregava na boca sua própria cordinha. João é o cachorro de Wellington. Um dia, João foi atropelado e ficou impossibilitado de andar, então, Wellington enfaixou a pata de João e passou a carregá-lo nas costas. João e Wellington moram nas ruas do centro de São Paulo, nas proximidades do Páteo do Colégio. Algumas vezes, vi pessoas doando ração para João e ajudando Wellington a comprar remédios para o amigo. Hoje, na volta do almoço, encontrei Wellington de cabelo cortado e sem João. João está internado, recuperando-se da cirurgia, uma mulher pagou para colocar os pinos que possibilitarão que João volte a andar sozinho. Amanhã, João terá alta e Wellington vai buscá-lo. Por isso, Wellington estava contente, exibindo seus poucos dentes, com um cigarro doado na mão, à espera do almoço que ganharia do restaurante da esquina. imagens

inevitável

Dói quando não se tem mais nada a fazer, senão aceitar. O alento é que aceitar, antes de fazer tudo o que se pode, corrói.

Ângulo

Há pouco, tive a leve impressão de ser uma personagem que chegou atrasada numa peça começada, que não era a minha. Talvez, eu seja a coadjuvante que dá emoção à trama, talvez, eu tenha sentado do lado errado do bonde. Ou talvez, a minha, seja a história paralela.

Dia do Teatro

Hoje, dia 21 de março, é o Dia Nacional do Teatro. A você, minha filha e a todos aqueles que um dia se apaixonaram pela nobre arte do Teatro, um abraço e a esperança de que esta paixão lhe traga toda a felicidade possível. (Francisco Pedro Alves)

As mãos

Sobre o verde as mãos ansiavam As mãos pálidas hesitavam no desejo de se entrelaçarem Então, uma amassou o verde, querendo o azul. As estrelas inexistiam, só havia as mãos Não. Havia mãos, Olhos fugidios, Lábios em movimento e Mãos próximas O verde ficou perdido A sensatez se despediu Mas, não se tocaram, as mãos Receosa, uma passou levemente pelo castanho Dos cabelos. Não houve amarelo, nem vermelho. A noite seguiu quente em verde pranteado, azul distante E sono embriagado.

A Farsa do Boi Surubão e Hoje tem Palhaçada!

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Confraria da Paixão Teatro Popular do Brasil apresenta: Hoje tem Palhaçada! Gênero: teatro infantil Recomendação: a partir de 2 anos Hoje tem palhaçada! é um espetáculo resultante de um pesquisa sobre o palhaço popular, que a Companhia vem realizando há três anos. O espetáculo tem início com uma animação de bonecos e objetos, a título de aquecimento da platéia. Começa propriamente com seis palhaços que pretendem realizar um grande concerto musical. No entanto, são interrompidos pelo Palhaço Diretor, que julga de péssima qualidade a execução deles. A partir daí o público assiste a dezoito cenas, onde os palhaços dão rédeas soltas às suas imaginações, mostrando engraçadas cenas de rara beleza e lirismo. Um espetáculo da Confraria da Paixão, com a direção de Luiz de Assis Monteiro. No elenco: Cax Nofre, Giancarlo Zago, Lê Fazzio, Lucas Martins, Luiz de Assis Monteiro, Sandra Britto e Vagner Anjinho. Teatro Macunaíma. Até 1 de abril. Sábados e domingos, 16:00 horas. R$ 12. A farsa do Boi S

O Homem do Machucado

Todos os dias, a caminho do trabalho, sentado no degrau do bar da esquina, eu vejo o Homem do Machucado. O Homem do Machucado aparenta uns 60 anos, mas deve ter menos, olhos claros, cabelos brancos só na parte de trás da cabeça, que quase sempre está machucada do lado direito (que de tanta pancada tem um ponto grande afundado). A cabeça, não raramente, está sangrando, às vezes o rosto está machucado, às vezes o braço enfaixado... De tanto vê-lo estropiado, me acostumei... Anos e anos, até que recentemente o homem machucado começou a me intrigar... Seria ele um bêbado que sempre cai? Pesquisei junto às outras figuras do trabalho, o Patolino me disse que vê o homem do machucado desse mesmo jeito há 20 anos, que ele não bebe, é agiota, por isso, toda manhã está no caminho do tribunal, empresta dinheiro aos funcionários daqui e ali é seu ponto estratégico de negócios. Disseram-me que ele se machuca porque cai constantemente por causa da epilepsia, os policiais estão acostumados a levantá-l

Seu Boiadeiro por aqui choveu...

Na verdade não choveu, está um sol brilhante, pós uma noite linda de lua cheia na nossa Babilônia Paulistana. Mas acordei com essa música na cabeça, a cabeça longe, o coração também. Eu e Terrível viemos no metrô cantarolando, cheios de saudade gostosa e doída no peito, a cabeça dele nunca volta de lá, a minha está ficando cada vez mais lá. Não que aqui não esteja bom, está ótimo, reestreamos! Os espetáculos estão melhores e ontem foi aniversário de 6 anos da Confraria da Paixão, comemoramos em família de confrades. Tia Alva continua uma palhaça apaixonada (com mais mobilidade, porém) e Cax continua cheia de paixão que explode em outra direção. Olho para a lua gorda e linda, enxergo as estrelas, mesmo encobertas e a pontinha do coração volta a torcer. Durmo e acordo feliz... Choveu que abarrotou, foi tanta água que meu boi nadou! Desço na Sé, olho para as folhas da árvore e sigo alienada, depois do farol, como sempre, vejo o homem do machucado, hoje ele está menos machucado, acho que à

O Meu Amigo Pintor

Por um acaso, achei na casa do meu amigo da Ilha, o livro O Meu Amigo Pintor , de Lygia Bojunga Nunes , abri aleatoriamente na página 36 e li: (...) Olha. Olha! Olha!! Não dá pra ver? Não dá pra sentir que a minha pintura não tem vida? _ E aí ele jogou o pincel na mesa com um jeito meio, sei lá, um jeito desesperado, que, francamente, eu nunca tinha visto ele ter. Eu fico lembrando dessa cena, e fico pensando uma coisa: será que um artista pode amar tanto o trabalho dele que... deixa eu ver como eu explico isso... pode amar tanto o trabalho dele que, se ele acha que o trabalho não tem vida, ele também não quer mais ter? Fiquei imediatamente interessada e peguei o livro emprestado, é uma literatura infanto-juvenil, que trata da amizade entre um menino de 9 anos (que narra a história) e um artista plástico. O livro é tão bonito, remete a imagens comparando cores a sentimentos, achei tão interessante, tão tocante, que eu pensei: Como eu gostaria de ter escrito algo assim! Foi a primeira v

Wonderful World

Um dia da adolescência, uma dia de aniversário em que eu fazia 16 ou 17 anos, eu estava na casa da Rua 13, a família pronta para cear e eu ansiosa por gostar do natal, do meu aniversário. Coloquei a música que me tocava para tocar, era Wonderful World, de Louis Armstrong, daí eu tomei coragem e decidi que eu queria ouvir a voz do ser amado e liguei para o William, não tive coragem de falar nada, só ouvi a voz dele, o engraçado é que não lembro o que ele disse, não lembro se foi ele que atendeu ou se eu mandei chamar, só lembro que era meu aniversário, que eu ouvi a voz dele e por isso dormi feliz. Lembrei de tudo isso porque hoje, o Giba, meu colega de trabalho, me apareceu com um CD-mofo que tinha essa música, eu ouvi e lembrei do William, do telefonema, daquele passado. A Rosana lembrou do cunhado dela que adorava essa música. O cunhado morreu, por isso, a mãe dela sempre chora quando ouve Wonderful World e eu quase chorei por me lembrar de um dia, ou melhor, de uma noite inocente e

Saudade

Dói diferente e corrói a pontinha do coração de forma que espreme os olhos para deixá-los quase alagados. A barriga treme porque o corpo quer ir e tem que ficar, impotente. A concentração é vencida por lembranças e a vontade... É se deixar inundar...

Luzes

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Sete andares acima do meu, povoada de pensamentos, me perco entre inúmeras luzes. As estrelas poucas na linda noite do céu cinzento me dão vontade de Marujá. O planetário deve estar lá, pleno. O maluco na varanda, sonzinho ao fundo, a natureza gritando. E eu aqui, cinza e perdida, cheia de vermelho complicado no coração.

Batido

O assunto é batido e chocante, mas só hoje me dei conta... Na verdade, minha vontade de ser feliz, diversas vezes me aliena da realidade crua, triste e pesada, (palavras que sempre tento evitar) mas hoje, fui instigada a pensar no menino que morreu no Rio arrastado pelo cinto de segurança e procurei notícias a respeito. É triste e cruel demais, como tantos episódios que já ouvimos por aí, como daquela menina da colégio São Luiz. Daí eu penso que não sei o que pensar, ou eu acredito que convivemos com vários monstros, ou eu culpo a sociedade, ou eu acredito em carmas, em espiritismo, que me explicaria que Liana e o João Hélio fizeram atrocidades em vidas passadas. O problema é que por mais que eu tente, no fundo sou uma cética convicta que tenta acreditar. Meus pensamentos me dizem que há pessoas muito más, capazes de coisas horrorosas... Para compensar, eu nunca acredito que essas coisas acontecerão comigo ou com minha família, será instinto de sobrevivência?! Eu procuro fazer yoga,

Neverland

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A terra do nunca parecia um filme. Em 30 metros sumia-se da vista, como se passássemos para outra dimensão, os trens antigos, o pó a capela e o museu em meio a gerânios coloridos e caminhos de grama me faziam crer que era um sonho, que era Neverland! Eu me sentia a Sininho sobrevoando a grande roda e a jovem personagem de Pinter andando sobre os trilhos. O homem de macacão sujo, alimentando a locomotiva com grandes fachos de lenha, me deu a impressão de que eu encontraria minha bisavó, elegantemente trajada em cinza, contrastante aos seus olhos azuis, usando um belo chapéu, prestes a tomar o trem para o Rio. O cachorro da estação dormia, a névoa combinava comigo, ainda combina. Eu, amante do sol, me encantei com a neblina embriagante e brinquei como uma criança girando meu Peterpanzinho e vagando por vagões e ruas ladrilhadas em paralelepípedos donde, às vezes, do nada, do branco, surgiam belas crianças correndo. Os galpões de madeira e planta e as casas antigas e conservadas pareciam

Blá

Santa Maldita sensatez que me salva e condena em porções.

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O menino feliz olhava para o mar. O boto acenava. O sol abrandava. Eu fotografava.

Calor Intenso

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Como é difícil voltar, como os ânimos são diferentes, as vozes aqui são mais sufocadas, todos estão oprimidos e não há nada que eu faça, mesmo o que me dá prazer, que não me faça lembrar, como é bom estar na Ilha da Cardoso. Foram apenas 12 dias, mas 12 dias tão intensos, que valeram por muito mais. Queridíssimo Lion-Terrível, que me avisou deste Paraíso e consolidou de vez nossa amizade. Desde o barco, o contato com o mar, montar a barraca, gritar “Calor!” cada vez que alguém colocava o pé no Camping. No começo, tanta espontaneidade, tanta natureza e tanta loucura me atordoaram, me deixaram sem saber o que fazer, eu nem sabia o que estava acontecendo comigo, me perdia no mar escuro e no azul do vermelho, senti em dias coisas que eu evitava há muito tempo, me derreti, sofri, me diverti, gritei e ardi e só estava no 3º dia, eu acho, porque lá, o tempo não importa. Sempre me perdendo e me achando fui me ligando cada vez mais à Ilha, me encantando com os passarinhos, me superando nas pedr

Carta

Meu querido Não sei se você chegará a ler esta carta porque não sei como envia-la e não sei quando nos veremos, o que para mim é muito triste neste momento. Tudo na sua Ilha é intenso e eu, que sempre tentei ser sensata, fiquei inicialmente perdida, confusa, atordoada e terminei apaixonada com tanta energia, tanta loucura, tanto som, tanta poesia e Cataia no ar. Os 12 dias que passei na Ilha, valeram emocionalmente como meses e meses, muita coisa aconteceu dentro de mim, muita água rolou e eu achei que meu balanço final seria confusão, mas não, o final da minha passagem na sua Ilha foi o melhor possível, porque foi com você. Foi tão difícil sair da Ilha que até agora me pergunto se eu não deveria estar aí, meu lado responsável e minha paixão desgastada pelo teatro venceram, mas até agora ainda sinto seu gosto, seu cheiro o tempo todo e eles são um alento nessa volta à minha concreta realidade paulistana. No Lagamar, em Cananéia, no ônibus, em casa (enquanto eu lavava a barraca ouvindo