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Mostrando postagens de março, 2007

João e Wellington

A primeira vez que vi Wellington, ele estava atravessando a rua, todo orgulhoso de João, que carregava na boca sua própria cordinha. João é o cachorro de Wellington. Um dia, João foi atropelado e ficou impossibilitado de andar, então, Wellington enfaixou a pata de João e passou a carregá-lo nas costas. João e Wellington moram nas ruas do centro de São Paulo, nas proximidades do Páteo do Colégio. Algumas vezes, vi pessoas doando ração para João e ajudando Wellington a comprar remédios para o amigo. Hoje, na volta do almoço, encontrei Wellington de cabelo cortado e sem João. João está internado, recuperando-se da cirurgia, uma mulher pagou para colocar os pinos que possibilitarão que João volte a andar sozinho. Amanhã, João terá alta e Wellington vai buscá-lo. Por isso, Wellington estava contente, exibindo seus poucos dentes, com um cigarro doado na mão, à espera do almoço que ganharia do restaurante da esquina. imagens

inevitável

Dói quando não se tem mais nada a fazer, senão aceitar. O alento é que aceitar, antes de fazer tudo o que se pode, corrói.

Ângulo

Há pouco, tive a leve impressão de ser uma personagem que chegou atrasada numa peça começada, que não era a minha. Talvez, eu seja a coadjuvante que dá emoção à trama, talvez, eu tenha sentado do lado errado do bonde. Ou talvez, a minha, seja a história paralela.

Dia do Teatro

Hoje, dia 21 de março, é o Dia Nacional do Teatro. A você, minha filha e a todos aqueles que um dia se apaixonaram pela nobre arte do Teatro, um abraço e a esperança de que esta paixão lhe traga toda a felicidade possível. (Francisco Pedro Alves)

As mãos

Sobre o verde as mãos ansiavam As mãos pálidas hesitavam no desejo de se entrelaçarem Então, uma amassou o verde, querendo o azul. As estrelas inexistiam, só havia as mãos Não. Havia mãos, Olhos fugidios, Lábios em movimento e Mãos próximas O verde ficou perdido A sensatez se despediu Mas, não se tocaram, as mãos Receosa, uma passou levemente pelo castanho Dos cabelos. Não houve amarelo, nem vermelho. A noite seguiu quente em verde pranteado, azul distante E sono embriagado.

A Farsa do Boi Surubão e Hoje tem Palhaçada!

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Confraria da Paixão Teatro Popular do Brasil apresenta: Hoje tem Palhaçada! Gênero: teatro infantil Recomendação: a partir de 2 anos Hoje tem palhaçada! é um espetáculo resultante de um pesquisa sobre o palhaço popular, que a Companhia vem realizando há três anos. O espetáculo tem início com uma animação de bonecos e objetos, a título de aquecimento da platéia. Começa propriamente com seis palhaços que pretendem realizar um grande concerto musical. No entanto, são interrompidos pelo Palhaço Diretor, que julga de péssima qualidade a execução deles. A partir daí o público assiste a dezoito cenas, onde os palhaços dão rédeas soltas às suas imaginações, mostrando engraçadas cenas de rara beleza e lirismo. Um espetáculo da Confraria da Paixão, com a direção de Luiz de Assis Monteiro. No elenco: Cax Nofre, Giancarlo Zago, Lê Fazzio, Lucas Martins, Luiz de Assis Monteiro, Sandra Britto e Vagner Anjinho. Teatro Macunaíma. Até 1 de abril. Sábados e domingos, 16:00 horas. R$ 12. A farsa do Boi S

O Homem do Machucado

Todos os dias, a caminho do trabalho, sentado no degrau do bar da esquina, eu vejo o Homem do Machucado. O Homem do Machucado aparenta uns 60 anos, mas deve ter menos, olhos claros, cabelos brancos só na parte de trás da cabeça, que quase sempre está machucada do lado direito (que de tanta pancada tem um ponto grande afundado). A cabeça, não raramente, está sangrando, às vezes o rosto está machucado, às vezes o braço enfaixado... De tanto vê-lo estropiado, me acostumei... Anos e anos, até que recentemente o homem machucado começou a me intrigar... Seria ele um bêbado que sempre cai? Pesquisei junto às outras figuras do trabalho, o Patolino me disse que vê o homem do machucado desse mesmo jeito há 20 anos, que ele não bebe, é agiota, por isso, toda manhã está no caminho do tribunal, empresta dinheiro aos funcionários daqui e ali é seu ponto estratégico de negócios. Disseram-me que ele se machuca porque cai constantemente por causa da epilepsia, os policiais estão acostumados a levantá-l

Seu Boiadeiro por aqui choveu...

Na verdade não choveu, está um sol brilhante, pós uma noite linda de lua cheia na nossa Babilônia Paulistana. Mas acordei com essa música na cabeça, a cabeça longe, o coração também. Eu e Terrível viemos no metrô cantarolando, cheios de saudade gostosa e doída no peito, a cabeça dele nunca volta de lá, a minha está ficando cada vez mais lá. Não que aqui não esteja bom, está ótimo, reestreamos! Os espetáculos estão melhores e ontem foi aniversário de 6 anos da Confraria da Paixão, comemoramos em família de confrades. Tia Alva continua uma palhaça apaixonada (com mais mobilidade, porém) e Cax continua cheia de paixão que explode em outra direção. Olho para a lua gorda e linda, enxergo as estrelas, mesmo encobertas e a pontinha do coração volta a torcer. Durmo e acordo feliz... Choveu que abarrotou, foi tanta água que meu boi nadou! Desço na Sé, olho para as folhas da árvore e sigo alienada, depois do farol, como sempre, vejo o homem do machucado, hoje ele está menos machucado, acho que à

O Meu Amigo Pintor

Por um acaso, achei na casa do meu amigo da Ilha, o livro O Meu Amigo Pintor , de Lygia Bojunga Nunes , abri aleatoriamente na página 36 e li: (...) Olha. Olha! Olha!! Não dá pra ver? Não dá pra sentir que a minha pintura não tem vida? _ E aí ele jogou o pincel na mesa com um jeito meio, sei lá, um jeito desesperado, que, francamente, eu nunca tinha visto ele ter. Eu fico lembrando dessa cena, e fico pensando uma coisa: será que um artista pode amar tanto o trabalho dele que... deixa eu ver como eu explico isso... pode amar tanto o trabalho dele que, se ele acha que o trabalho não tem vida, ele também não quer mais ter? Fiquei imediatamente interessada e peguei o livro emprestado, é uma literatura infanto-juvenil, que trata da amizade entre um menino de 9 anos (que narra a história) e um artista plástico. O livro é tão bonito, remete a imagens comparando cores a sentimentos, achei tão interessante, tão tocante, que eu pensei: Como eu gostaria de ter escrito algo assim! Foi a primeira v