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Mostrando postagens de maio, 2007

l e v e

De repente, inesperadamente, caminhando nas Salinas e surpreendentemente, pelos Montes, a solução chegou a meio-termo, em realismo e alívio. Um sonho! Corremos para a Toca, celebrando com Seleta e caldinho o fim da angustia. O dia amanheceu gelado e leve.

Branco Transparente

Ontem percebi que preciso decidir Ficar ou partir Ontem percebi que não consigo decidir. Ninguém casa pensando em separação Ontem assisti ao teatro Kaus Nunca terminei um casamento Ontem revi meus amigos Nunca casei Ontem bebi vinho Parece divórcio Ontem falei ao telefone Como é difícil Ontem fui ao supermercado A decisão de partir me traz vazio Ontem comprei rodo e vassoura A decisão de ficar me pesa e cansa Ontem comi um sanduíche de mortadela-muleta Quando eu sair serei traidora-ingrata Ontem dormi tarde e sonhei Queria que houvesse um meio-termo Hoje vi a água jorrar da fonte Não há o meio-termo Hoje o prédio está vestido de branco transparente Ficar ou abandonar Hoje continuo sem saber o que fazer Não quero ficar nem abandonar

fim de tarde

E a tarde que estava tão fria e chata, de repente ficou tão carioca e alegre que eu até resolvi ensinar e cantar para esperar a sexta findar.

nuvens

Às vezes, me sinto tão nublada, tão confusa, tão tumultuada, tão cheia, tão vazia... Às vezes, preciso ver o sol.

Dicionário e Nelson

paciência do Lat. patientia s. f., qualidade de paciente; resignação; conformidade em suportar os males ou os incômodos sem se queixar; perseverança tranqüila; calma na continuação de qualquer tarefa ainda que esta seja difícil ou muito demorada; tranquilidade com que se espera aquilo que tarda; nome de certos jogos de cartas; interj., designativa de resignação ou conformidade. (fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx ) Já dizia Nelson Rodrigues : A burrice é invencível...

Frio enterrado

Hoje está frio, sem chuva. Sair da cama nesses dias é sempre difícil. Sonhei com o enterro da Vovó Gerônima, ela morreu quando eu tinha 13 anos, não sei porque sonhei com uma versão estranha do funeral. O celular despertou, mas não consegui acordar às 7 para dar bom dia. Cama, coberta e comida me são tão apaixonantes no inverno. Consegui chegar ao trabalho, só faltava a disposição... Porém, telefonemas, ironias, datas e acórdãos errados quase me derrubam, sorte que não é TPM, senão poderia haver um surto... Preciso de yoga, zenzice, paciência, pensamento positivo (que O Segredo me ajude) e muito, mas muito mesmo, bom humor (mesmo o clima não ajudando). Sampa, 11ºC

Irritação

(do Miniaurélio: ir.ri.ta.ção Substantivo feminino. 1.Ato ou efeito de irritar. 2.Estado de irritabilidade, mau humor, exasperação em que alguém se encontra. ) O estagiário perdido me irritou, o advogado rebuscado mais ainda, o ternoso metido e cheio de perguntas me irritou, a advogada arrogante mais ainda. O trabalhou me irritou, as pessoas mais ainda. Finalmente o dia terminou, cheguei em casa, fiquei descalça e me joguei no sofá... Aí tive uma luz: O que me irritava era o sapato alto e desconfortável.

Uma Despedida

Chegando de verde sob os olhares palhaços dos palhaços, tudo ia bem, estávamos felizes (embora ressaqueados). Carregamos os carros e participamos do episódio: Perdidos em Itaquá , chegamos, descarregamos, trepamos nas colunas de luz, montamos, comemos, nos maquiamos e nos apresentamos para uma platéia maravilhosa. Tia Alva dançava pela última vez para o fon fon nas mãos risonhas. A formiguinha respondeu à despedida definitiva do palhaço apaixonado. O espetáculo terminou, pela última vez, em risadas. Tudo desmontado, o sol se punha no caminho de volta. E o fim... O fim mesmo, cheio de drama e mágoa, não merece comentários, não foi um fim digno para o maravilhoso bando de palhaços, tia Alva o desconsidera. Prefiro lembrar da risada de Pititico, dos olhos de Piluko, do andar de Franjola, da inocência de Anjo, da dança de Biscuila e da música de Pindoba. Prefiro lembrar, não de toda a dificuldade de Tia Alva, mas dos amigos inesquecíveis que ganhei, das crianças que fomos, somos, conhecemo

Mar de Guarda-Chuvas

Acordo, sem chance de dar bom dia, vejo a chuva caindo no quintal, sinto frio e preguiça. Na praça, o vendedor desesperado, parece cheirado e grita sem parar: Guarda-chuva é cinco! A faixa de pedestres parece um mar de guarda-chuvas coloridos, vários azulados. Adentro, atrasada, o local de trabalho. O que eu mais preciso é paciência. Que ela venha.

Sentido

Idealizando tudo resolvido, vi a resolução tão distante. O sentido perto e a cachoeira jorrando. Tudo me faz tão mal e tão inevitavelmente. Parece vacina obrigatória e doída. Eu me sinto tão e tão inundada. E tão mais nada.

O ônibus

Ontem, quando eu saí do trabalho, um ônibus articulado me deu medo, tive a impressão de que a parte traseira não articularia e atingiria os pedestres que aguardavam o farol, inclusive eu, que recuei instintivamente para quase dentro do bar da esquina. O ônibus articulou e não acertou ninguém eu e todos os outros que estavam ao meu lado, seguimos nosso caminho. Hoje de manhã, a história foi diferente, um ônibus atropelou quatro pessoas , uma morreu na hora. Hoje eu cheguei mais tarde ao trabalho, desliguei o despertador e fiquei sonhando com Recife, não sei porque... O local do acidente é próximo ao meu trabalho, por onde eu passo quase todos os dias saindo do metrô, o horário do acidente coincide com o horário que eu cheguei ao trabalho ontem. Toda vez que a morte passa perto de nós, é inevitável pensarmos no assunto. Parte da minha família é, eu digo, bastante mórbida, vários de meus parentes gostam deveras de falar de mortes e tragédias. Na cidade onde nasci, nas esquinas principais,

Missa Conga

Imagem
No domingo, 29 de abril de 2007, acordei e fui à missa no Largo do Payssandu. A caminho, pelo sol, ao longo da São João , pela Virada , encontrei punks, zens, velhos, crianças, jovens, bêbados e beatos de todas as cores. Em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos , a entrada do padre e o batuque contagiante tanto contrastavam quanto se completavam, assim como os olhos do menino africano no colo do pai, os cabelos dourados da menina na barra da mãe, a perplexidade da alva mulher ao meu lado, a emoção do branco rasta e as muitas cores e sons dos grupos de congada . De vários locais do Brasil, viam-se diferentes semblantes, batucadas e fés. Meu passado católico aliou-se às minhas profundas raízes africanas e brasilianas, meu pés não pararam, meu corpo se entregou ao belo ritual, meus olhos se inundaram. De repente, estávamos todos de mãos dadas, atados pela mesma energia. A profusão daquele momento é inacessível neste. Mas, inesquecível. * TODAS AS FOTOS *

Florida

Fresca, com o mesmo cheiro de dove nos cabelos, florida, colorida em poesia, saí para o dia. Não havia sol, e eu estava ensolarada, enluarada, na ausência da lua. O barulho era dos carros, mas meus ouvidos insistiam em escutar o mar! Eu tinha sono, mas ao invés de fechar os olhos, sorria...

Conto de escada

Na saída do mercado, com o vinho na mão, ela encontrou o vizinho. Cumprimentos formais. Chegaram juntos ao prédio. Ele puxou conversa, ela estranhou e sentiu-se profundamente acanhada quando os dois olhos cor de azeitona a encararam. (Aquele rapazola estava intimidando a mulher resolvida do alto de seus 41 anos?!) Era inacreditável e embaraçoso, ela mal conseguia responder às triviais perguntas. Chegaram em frente aos respectivos apartamentos. Ela procurava a chave. Ele, de chave na mão, continuava a falar. Ela se despediu amarelamente, ele tocou seu ombro, ela, trêmula, logo entrou e trancou a porta. Para revolta da resolução, o jovem vizinho roubara-lhe o sossego e os pensamentos.

Combina

De repente eu olhei e vi e reparei: Ele combina com o teto, com o azulejo, com o cômodo, com o cantinho, nem sei explicar, só reparei que combina como eu nunca havia reparado que alguém combinasse tão bem. E aí, como se não bastasse, depois, também reparei, sem querer, que ele combinava mesmo onde não estava... O triângulo saiu do bolso, estava tudo tão bem, mesmo assim faltava... Faltava a presença que ali me combinava, me convenci a não me importar, me importei. E dancei até o dia clarear.

21 minutos depois

Como não ouvi, não atendi, quando vi, titubeei, mas não retornei, como um grito de libertação que suprimiria o indesejado, como a luz de uma sabia decisão. Dormi.

A Garôa e o Álcool

Cheguei à Secretaria (que é o boteco onde almoço) já passava das 2 hrs., a feijoada já havia acabado, mesmo assim, consegui a caipirinha para amenizar o frio. Eu, tomando meu drink discretamente à espera do milanesa. Chegam dois respeitáveis senhores do meu trabalho, enquanto eu pensava em esconder meu copo, os respeitáveis pediram uma vodka e um vinho seco vagabundo. Curiosamente, todos no boteco, estavam rindo, de bom humor, apesar do frio, da garôa e do vento cortante. Fiz amizade com um senhor de boina, etilicamente feliz, que reforma sofás (muito útil, já que meu sofá está precisando de um trato). Reparei que o chapeiro bebericava entre uma calabresa e um omelete e pouco depois já estava agradando a garçonete bonitinha (eu já desconfiava da paquera). Na saída, ainda encontrei o meu gerente do banco sorridente, de copinho na mão, era café, mas estava com cara de quem experimentou a caipirinha...

Tempo amigo

Há tempos atrás, há uns 12 anos, a música Sobre o Tempo , do Pato Fu, era mote do meu namoro, e o detalhe é que cantávamos Fique comigo, seja legal mas na verdade a música dizia Tempo amigo, seja legal Hoje, sem tempo, pensei nisso, na verdade, pensei no tempo para o teatro, para a Confraria da Paixão, no tempo de ser tia e brincar, tempo de ler, comer, tempo pra ver desenho e filme, pra ir ao cinema, tempo pra alongar e correr e exercitar, tempo para pensar, pra querer, pra rejeitar, tempo pra ser filha, neta, tempo de família, tempo de ser sincera e de deixar passar, de aprender, de observar e participar, de agradecer, de ir, de voltar atrás, tempo de ser política, de trabalhar, de lidar, de ser boa profissional, de ser até advogada, tempo para os amigos: os de lá, os de cá, dantes, de agora, tempo de pentear e pensar e lavar e dormir e acordar e chorar (pouco tempo) tempo pra escrever e tempo de sorrir (muito tempo) e dançar e cantar e beber e beijar e viajar e bagunçar e arrumar

Oh Darling!

Acordei 9:59, meu vizinho cantava junto com o disco, com emoção vazada: Oh Darling... Please believe me! Já acordei rindo, puxei a cortina azul e vi o céu azulado por trás do prédio amarelo iluminado pelo sol amarelo-avermelhado. Um dia bonito, ou melhor, lindo! E o vizinho cantante: Oh oh oh... Lá! Lá!! Lá!!! E eu, que continuo a rir, nem vou ligar meu rádio. Adoro vizinhos animados. E seguiu o dia com roupa no varal, almoço dançante com o melhor amigo, caminhada sob lua na passarela de pedra, exercício, risada e Forró do Tranquilino na Confraria da Paixão e terminou com poesia e a secretária eletrônica me dizendo exatamente o que eu queria ouvir. Êta Dia do Trabaio bão! Sampa, 1º de maio de 2007